Danusa Leão é
jornalista e autora dos livros Na Sala com Danusa, As aparências enganam, e
a autobiografia Quase Tudo.
É inacreditável que a medida do governo de São Paulo proibindo o fumo em
lugares fechados tenha sido contestada pala justiça. Isso na contramão do
mundo inteiro, que vem fazendo tudo que é possível para coibir o vício do
fumo.
O fumo é um veneno, e quem fuma vai um dia pagar caro por ter achado alguma
graça em acender um canudinho de papel cheios de porcarias, inalar a fumaça
direto para os pulmões e depois soprar de novo a fumacinha; no mínimo,
ridículo. Nos anos 40, todos os filmes mostravam os atores atrizes fumando,
e isso fazia parte do glamour da época. Lembro da cena de um filme em que o
ator punha dois cigarros na boca, ascendia ao dois e passava um deles para
atriz com quem contracenava. Quanta burrice; quanta ignorância. Eu também
fui burra e ignorante anos, e apesar de ter sido alertada por tanta gente,
só parei de fumar no tranco, isto é, quando meus pulmões pediram socorro.
Fumar é um vício miserável, mais difícil de ser deixado do que qualquer
droga pesada. Porque para comprar cigarros não é preciso subir no morro,
procurar um traficante e ainda se arriscar a ser preso. Um maço de cigarros
não custa quase nada pode ser comprado na esquina, e fumar não é crime –
ainda. Mas os fumantes já começam a ser olhados com maus olhos, e a verdade
é que esse vício é bem nojento.
Está aí uma coisa de que me arrependo muito: ter sido fumante. Quando vou
subir uma escada ou mesmo uma pequena ladeira, e tenho que parar para
respirar, sinto muita vergonha. Como eu gostaria de ser lépida e ligeira
como já fui; e sei que a culpa disso não tem outra origem não ser o cigarro.
È um suicídio lento, e o pior é que não costuma adiantar dizer aos jovens
que não entrem nessa porque é uma roubada. Será que é preciso sentir os
efeitos da droga para começar a tentar parar? Eu sei que não é fácil, mas
não é possível que só a maturidade ensine coisas tão obvias.
Ouvi dizer que os cigarros estão custando mais caros; pois deviam custar
mais caro ainda. Uns R$ 50 por maço seria um preço razoável. E eu queria
saber o que passou na cabeça desse juiz – ou desses juízes – que decidiu ser
ilegal a medida do governo de proibir o fumo em lugares públicos fechados.
Se os fumantes são uns idiotas – tanto quanto eu fui – não sei o que dizer
dessa Justiça que foi contra a medida. A indústria é poderosa, mas está se
ferrando no mundo todo; e tomara que se ferre mais ainda.
Que vergonha eu tenho do tempo que me achava moderna e rebelde e fazia a
apologia do fumo. E que raiva eu tenho de mim mesma, quando quero andar mais
rápido e não consigo, porque minha respiração falha. Como é que alguém pode
fazer mal a si mesma? Por que, a troco de que, se os primeiros cigarros são
tão desagradáveis e é preciso insistir para conseguir fumar, se achando o
máximo, glamurosa e adulta?
Quando passo pela porta de um shopping e vejo umas pessoas fumando, já que
no interior do shopping é proibido, tenho que me conter para não parar,
sacudir uma delas pelos ombros e dizer “não seja idiota, pare com isso antes
que seja tarde”, mas sou obrigada a controlar, pois não pegaria nada bem
fazer isso. Imagino que, se você me leu até agora, é porque não é fumante;
se fosse já teria passado para outra página do jornal. Mas imagino também
que você seja pai ou mãe de um jovem fumante que gostaria muito que seu
filho ou filha deixasse o vício.
Eu não sei mais o que dizer, pois falar não costuma adiantar.