SOMOS POLÍGAMOS E EGOÍSTAS

- 19/03/2003 -


Entre os seres vivos há seres polígamos e monógamos; mas prevalece e muito o lado polígamo, assim como o lado masculino. Entre os humanos a poligamia e o machismo é predominante; entretanto, a sociedade procura um pouco de equidade.

Há entre os irracionais algumas raras espécies onde se formam casais monógamos. No resto, prevalece a tendência de cada um a fazer sexo com grande número de parceiros, e a disputa das fêmeas pelos machos, que, em muitas espécies é decida na cabeçada, na mordida, etc.

Entre nós a vontade de cada um é poder relacionar-se com vários indivíduos do sexo oposto, salvo exceções. Todavia, somos também egoístas: gostaríamos de ter várias opções, mas que elas fosses somente nossas, sem as compartilharmos com outros. Daí, como animais inteligentes, inventamos o casamento. E como, em quase cem por cento, o macho humano sempre dominou a sociedade, a vontade divina também tem sido em favor da poligamia masculina. Os muçulmanos são polígamos, Alá aprova. Os hebreus o eram também, Yavé não se opunha. No entanto, o cristianismo é monógamo, e Deus não aprova a poligamia, embora digam que Yavé seja o nome dado ao mesmo Deus dos cristãos.

A lei mosaica apenas proibia a união de um homem com duas irmãs ao mesmo tempo: “E não tomarás uma mulher juntamente com sua irmã, durante a vida desta, para tornar-lha rival, descobrindo a sua nudez ao lado da outra.” (Levítico, 18: 18); também uma mulher e sua filha: “Não descobrirás a nudez duma mulher e de sua filha” (vers. 17). Nesse caso não parece haver permissão mesmo após a morte da primeira; é o que podemos deduzir em confronto com o que diz sobre duas mulheres irmãs; mas duas ou mais mulheres não era coisa proibida.  Afirma a Bíblia que Salomão teve mil mulheres entre esposas e concubinas (I Reis, 11: 3). Roboão teve setenta e oito (II Crônica, 11: 21).

Apesar de polígamos, os hebreus tinha normas muito detalhadas sobre as relações sexuais possíveis (Veja todo o capítulo 18 de Levítico); e dois dos mandamentos constantes das tábuas do testemunho proibiam a relação com a mulher de outro: “Não adulterarás”; “Não cobiçarás ... a mulher do teu próximo” (Êxodo, 20: 14, 17).

Todas essas normas se desenvolveram por duas razões: o machismo e o egoísmo.

O machismo levou o homem a se dar o direito de ter várias mulheres, atendendo ao seu instinto poligâmico. A mulher não teria direito à satisfação da sua vontade. Ela era propriedade do homem, como os animais, a casa e outras coisas, como está no décimo mandamento.

Para um equilíbrio que pudesse manter a paz, estabeleceu-se o respeito às coisas do próximo. Você pode ter várias mulheres, mas não cobice as do seu vizinho, ou vai ter problema. Para manter essa ordem, nada melhor do que a vontade de Yavé.

Já o Cristianismo deve ter contado com alguns indivíduos que pensaram um pouquinho no lado da mulher. Por que temos o direito de ter duas, três ou quatro mulheres, e a pobre mulher é obrigada a ter um único, que ela nem escolheu. Para não liberar as coisas para a mulher, resolveram restringir um pouco o lado do homem. Ele deve ser “marido de uma só mulher”. Pelo menos, o ministro religiosos devia ser o exemplo (I Timóteo, 3: 2). E isso pegou, estabelecendo-se a monogamia entre os cristãos. Como o sexo era uma coisa muito mal vista entre os hebreus, os cristãos foram tão além, que vieram posteriormente a proibir o casamento dos ministros religiosos. Aquilo que Paulo disse ser “bom” (I Coríntios, 7: 1) tornou-se obrigatório para o profissional da fé.

Não obstante as regras religiosas, morais e jurídicas, os seres humanos permanecem por natureza polígamos, razão de tantas traições e conflitos por toda parte. Hoje, com mais equilíbrio entre homens e mulheres, devendo as uniões serem resultado de escolha mútua, as mulheres também disputam os homens ao seu modo, assim como, em regra, não costumamos disputar mulheres a socos e pontapés.  A Religião, a Moral e o Direito tentam equilibrar as coisas e manter a paz. Mas é difícil lutar contra a natureza.


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