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HISTÓRIA DO RÁDIO
"Primeiros tempos do
Rádio
17 de outubro de 2010 | 9h45
Ethevaldo Siqueira
Rádio-90 Anos – Primeiro artigo de uma série de três
O rádio está comemorando 90 anos em todo o mundo. Foi no dia 2 de novembro de
1920 que se inaugurou a primeira emissora oficialmente licenciada, em
Pittsburgh, nos Estados Unidos. Vale a pena rever os momentos mais remotos e
distantes do nascimento da comunicação sem fio. As experiências pioneiras foram,
sem dúvida, as do escocês James Clerk Maxwell e do alemão Heinrich Hertz, que
demonstraram cientificamente a existência e a propagação das ondas
eletromagnéticas do rádio, também chamadas de ondas hertzianas.
No final do século 19, uma das experiências pioneiras mais importantes foi a do
padre brasileiro, Roberto Landell de Moura, que em 1893 conseguiu transmitir a
voz humana, a uma distância de 8 quilômetros, da Avenida Paulista ao bairro de
Santana, numa demonstração do que se chamava telefonia sem fio. Landell foi um
inventor de talento, mas incompreendido e até perseguido por seus superiores
eclesiásticos e
Quase dois anos depois, em 1895, o italiano Guglielmo Marconi fez demonstração
semelhante. O mesmo inventor italiano conseguiu transmitir um sinal telegráfico
que cruzando o Oceano Atlântico, da Inglaterra à Nova Escócia, no Canadá em
1901.
A primeira emissora de rádio a funcionar com licença governamental no mundo foi
a KDKA, inaugurada no dia 2 de novembro de 1920, em Pittsburgh, nos Estados
Unidos. Podemos, portanto, comemorar os 90 anos dessa emissora pioneira bem como
da própria radiodifusão.
A KDKA, ao ser inaugurada, pertencia à Westinghouse, indústria fabricante de
transmissores e receptores de rádio. Essa emissora de Pittsburgh, que ainda
existe e funciona até hoje, pertence à CBS. Fiz até um teste interessante:
ouvi-la pela internet. Ela ainda funciona em AM na frequência de 1.020 kHz.
Para algumas pessoas não há plena certeza de que essa emissora de Pittsburgh
tenha sido a primeira do mundo. Mas a verdade é que ela foi a primeira rádio
licenciada oficialmente para transmitir regularmente nos Estados Unidos e, tanto
quanto se sabe, em todo o mundo. É claro que, antes dela, muitas outras pessoas
ou emissoras faziam transmissões esporádicas e experimentais, sendo a mais
antiga de 1906, na Califórnia e em outros pontos do planeta.
Há muitos fatos curiosos ligados à história dessa primeira emissora. Ela deu a
primeira notícia transmitida pelo rádio sobre as eleições presidenciais
norte-americanas, de 1920, em que foi eleito o 29º presidente americano, Calvin
Coolidge.
Mais curiosa ainda foi a transmissão integral da primeira luta de boxe pelo
rádio, entre os lutadores Jack Dempsey e Georges Carpentier. A luta foi
realizada em New Jersey, a mais de 300 quilômetros de Pittsburgh, e o sinal de
rádio foi transmitido via linha de teletipo, parecida com uma linha telefônica.
O rádio no mundo
A expansão do rádio em todo o mundo, a partir de 1920, foi muito rápida. Na
Europa, entretanto, o rádio acabou seguindo o modelo estatal, com forte presença
estatal e controle governamental das emissoras por razões de segurança. As
marcas e cicatrizes da Primeira Guerra Mundial reforçavam a preocupação dos
países com a segurança nacional e com os supostos riscos de interferência
política e ideológica das emissoras de rádio.
Mesmo assim, o rádio acabou sendo usado como instrumento de propaganda política
e ideológica por diversos países. O caso mais dramático do uso do rádio com
objetivos políticos foi o regime nazista na Alemanha, nos anos 1930. Adolf
Hitler e seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, falavam quase todas as
noites para o povo alemão e para o mundo, incitando à guerra, combatendo os
países democráticos, os judeus, os EUA, a Inglaterra e a antiga URSS.
No Brasil, em plena ditadura Vargas, o rádio passou a ser obrigado a transmitir
programas oficiais, chapas-brancas, como a velha Hora do Brasil, do Departamento
de Imprensa e Propaganda (DIP), de triste memória. A Hora do Brasil foi criada
em 1935 e que sobrevive até hoje com o nome de A Voz do Brasil.
É claro que o rádio foi utilizado, também, como resposta democrática, nos
Estados Unidos, na França e na Inglaterra – em especial pela BBC (British
Broadcasting Corp.) – nos anos 1930 e durante a Segunda Guerra Mundial.
Brasil, 1922
A primeira transmissão de rádio no Brasil ocorreu no dia 7 de Setembro de 1922,
quando se comemorava o primeiro centenário da independência do Brasil, com a
transmissão do discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa, do
Rio de Janeiro, antiga capital, para diversas outras cidades. O discurso feito
no Rio de Janeiro foi ouvido na Praça da Sé, em São Paulo, por meio de
alto-falantes instalados no centro da cidade. O discurso foi ainda ouvido em
Petrópolis e Niteroi.
A repercussão foi imensa. O jornal A Noite, do Rio, em sua edição do dia
seguinte trazia a seguinte manchete “Um sucesso da radio-telephonia e do
telephone auto-falante”. O texto da notícia, com a grafia da época, era o
seguinte:
“Uma nota sensacional do dia de hontem foi o serviço de rádio-telephone,
auto-falante, grande attractivo da Exposição. O discurso do Sr. Presidente da
Republica, inaugurando o certamen foi, assim, ouvido no recinto da Exposição, em
Nictheroy, Petropolis e em São Paulo, graças á instalação de uma possante
estação transmissora no Corcovado e de apparelhos de transmissão e recepção, nos
logares acima. Desses serviços se encarregaram a Rio de Janeiro and S. Paulo
Telephone Company, a Westinghouse International Co. e a Western Electric Company.
Á noite, no recinto da Exposição, em frente ao posto de telephone Público, por
meio do telephone auto-falante, a multidão teve uma sensação inédita. A opera
Guarany, de Carlos Gomes, que estava sendo cantada no Theatro Municipal, foi alli, distinctamente ouvida, bem como os aplausos aos artistas. Egual cousa
succedeu nas cidades acima”.
Os responsáveis por essa transmissão pioneira foram Roquete-Pinto e os
engenheiros Henrique Morize e Elba Dias, que lideravam o movimento para
instalação da primeira estação de rádio do Brasil: a Rádio Sociedade do Rio de
Janeiro.
No Recife, a luta pelo rádio é dos irmãos Moreira Pinto. Movidos exclusivamente
pelo idealismo, esses primeiros lutadores fazem tudo o que podem pela
radiodifusão brasileira. Como tudo exige recursos financeiros para os
investimentos, sem perspectivas comerciais confiáveis nos primeiros tempos, eles
formulavam apelos aos ouvintes para que se inscrevessem como
contribuintes-sócios das emissoras, mediante o pagamento “da módica contribuição
de cinco mil-réis por mês.”
Além da primeira transmissão de rádio no dia Centenário da Independência do
Brasil, os pioneiros Roquete-Pinto, Henrique Morize e Elba Dias criaram e
instalaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, emissora inaugurada no dia 20 de
abril de 1923. Essa rádio tinha um transmissor de apenas 500 watts – ou seja,
meio quilowatt – e antena no alto do Corcovado, no ponto onde mais tarde se
construiu a estátua do Cristo Redentor.
No entanto, chegou a ser captada e ouvida na Califórnia. A atmosfera terrestre
em 1923 era um lago sereno, sem a poluição radioelétrica de hoje. Por isso as
ondas de rádio tinham propagação tão fácil e alcançavam tão longas distâncias.
A Rádio Sociedade do Rio de Janeiro exigia o cadastramento de cada ouvinte. E o
receptor de rádio só era vendido diretamente a esses ouvintes cadastrados. Só em
1936, os rádios passaram a ser vendidos em lojas no Brasil.
A expectativa de Roquette-Pinto sobre o rádio era a mais otimista. No dia
inauguração da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, ele dizia:
“Todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão livremente
o conforto moral da ciência e da arte. A paz será realidade entre as nações.
Tudo isso há de ser o milagre das ondas misteriosas que transportarão, no
espaço, silenciosamente, as harmonias. Que incrível meio será o rádio para
transformar um homem em poucos minutos, se o empregarem com alma e coração!”
Nas palavras de Roquette-Pinto, “o rádio é o jornal de quem não sabe ler, é o
mestre de quem não pode ir à escola, é o divertimento gratuito do pobre”.
Vale recordar que Edgard Roquette-Pinto era médico, antropólogo e professor,
mas, acima de tudo, um apaixonado pelo rádio. Nascido na cidade do Rio de
Janeiro em 25 de setembro de 1884 e criado numa fazenda em Minas Gerais,
retornou ao Rio de Janeiro aos 10 anos com os pais. Aos 21, formou-se em
Medicina. Faz diversas viagens aos sertões de Mato Grosso ao lado do então
coronel Rondon (Cândido Mariano da Silva), o futuro Marechal Rondon, Patrono das
Comunicações do Brasil.
Idealista acima de tudo, ele doou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro ao governo
brasileiro, em 1936, mas especificamente ao Ministério da Educação. Durante
muitos anos, a emissora se chamou Rádio MEC.
(Fonte: http://blogs.estadao.com.br/ethevaldo-siqueira/tag/radio-sociedade-do-rio-de-janeiro/)
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