
20/09/01 – 00h00 – Atualizado em 20/09/01 – 00h00
“Justiça será feita”
Em discurso no congresso dos EUA, George Bush (foto) declara guerra ao terror, ao Talibã e ao Afeganistão. “A luta contra o terrorismo será longa e acontecerá ao mesmo tempo em vários países”, disse
Uma declaração dúbia do Taliban. Uma declaração explícita do presidente Bush. O dia de hoje começou com o resultado da reunião de clérigos no Afeganistão.
Os líderes religiosos de todas as cidades do país e o líder máximo Mulá Mohammed Omar, decidiram tentar persuadir o terrorista Osama Bin Laden a deixar o país assim que for possível, e escolher outro lugar para viver.
Para uma comunidade que, por tradição, não costuma mandar embora seus convidados, é um avanço. Mas está longe do que queriam os Estados Unidos: a entrega incondicional do terrorista.
Agora à noite, veio a resposta americana. O presidente George Bush praticamente declarou guerra ao Afeganistão. Disse que condena o regime Taliban. E fez exigências que devem ser cumpridas imediatamente, sem negociação, sem discussão.
Bush afirmou que a luta contra o terrorismo será longa. Vai acontecer ao mesmo tempo em vários países diferentes. E que todas as armas de guerra necessárias — todas — serão usadas para derrotar o terror. O repórter William Waack acompanhou o pronunciamento do presidente americano.
George W. Bush falou numa sessão conjunta das duas casas do congresso americano, transmitida ao vivo. Bush foi entusiasticamente aplaudido, parecia firme e resoluto.
Foi uma ocasião solene, na qual o presidente tentou explicar o que para muitos americanos ainda é inexplicável. O inimigo dos americanos não são os muçulmanos, adeptos de uma fé que é boa e pacífica, disse o presidente.
Os Estados Unidos acordaram para o perigo e vão à guerra contra uma rede mundial de radicais — e os governos que dão qualquer tipo de apoio a terroristas.
São milhares e estão distribuídos por mais de 60 países, disse Bush. Formam parte de uma rede internacional que abrange vários grupos diferentes. Ao Taliban, Bush exigiu a entrega aos americanos de todos os líderes da Al Quida, a organização terrorista dirigida por Osama Bin Laden.
Exigiu também acesso a militares americanos dos campos de treinamento de terroristas. “Estas exigências não são negociáveis”, disse Bush. “O Taliban entrega os terroristas ou vai ter o mesmo destino deles”.
Aos americanos, o presidente fez uma promessa bem clara: vai usar todos os meios diplomáticos, toda a influência econômica, todas as ferramentas legais e todas as armas de guerra necessárias para derrotar os terroristas.
Aos governos estrangeiros, a promessa foi igualmente clara: “ou vocês estão conosco ou estão contra nos”.
Mas dirigiu aos outros países também um pedido de ajuda: para derrotar os terroristas, os Estados Unidos precisam da cooperação de todos os serviços de inteligência, forcas policiais e sistemas bancários.
Foi um show de unidade, que incluiu a presença de políticos, parentes de vítimas e também de Tony Blair, o primeiro ministro britânico, que Bush descreveu como o melhor amigo dos Estados Unidos.
E terminou com uma mensagem muito forte: os Estados Unidos querem defender não só o próprio território, mas um sistema de valores, um modo de vida, que Bush descreveu como a guerra entre a liberdade, e o medo.
“Nós que defendemos a liberdade, vamos vencer”, disse o presidente.
Num gesto simbólico poderoso, Bush segurou o distintivo de um policial que morreu no atentado às torres do World Trade Center.
Bush preparou os americanos e o mundo para uma guerra que deve durar bastante tempo, e provavelmente vai custar muitas vidas também. Foi bem mais do que um discurso preparado para ações militares que equivalem a declarar guerra ao Afeganistão.
Bush deixou bem claro os Estados Unidos querem e precisam da cooperação de muitos países. Mas ficou igualmente claro que, se necessário, os americanos vão agir sozinhos.
<https://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,MUL904855-16021,00-JUSTICA+SERA+FEITA.html/>
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