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CIGARRO EM JULGAMENTO
(1O/05/2009)
15 de agosto, 2002 - Publicado às
19h25 GMT
Efeitos do cigarro e direitos dos fumantes dominam debate
Importância econômica da indústria do tabaco
também foi discutida no programa O Cigarro em Julgamento.
Os efeitos do cigarro no organismo, os direitos dos fumantes e dos não
fumantes e a importância econômica da indústria do tabaco no Brasil
foram os principais temas abordados no debate O Cigarro em Julgamento
- produzido pela BBC Brasil em parceria com a Rede Brasil.
O evento fez parte da série de reportagens O Cigarro em Julgamento,
produzida pela BBC Brasil, com o apoio da OMS (Organização Mundial da
Saúde).
O médico especialista em câncer Drauzio Varella; o cartunista e
jornalista Ziraldo, ex-fumante e responsável por uma campanha do governo
contra o fumo; o médico Ithamar Stocchero, que defende os direitos dos
fumantes; e o presidente da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra),
Hainsi Gralow, participaram do debate.
Representantes das principais fábricas de cigarro foram convidados a
participar, mas nenhum deles pôde confirmar presença no encontro. Várias
pessoas participaram da discussão com comentários e perguntas feitas ao
vivo ou enviadas por e-mail.
O início do debate, transmitido na noite de segunda-feira em conjunto
pelas emissoras de TV que compõe a Rede Brasil e pelas emissoras de
rádio associadas à BBC Brasil, foi dominado por questões relacionadas à
saúde.
O médico Drauzio Varella disse que não há dúvidas de que “o cigarro é
uma droga que causa dependência”.
Segundo ele, também não há como contestar que os fumantes colocam em
risco a saúde das pessoas que não fumam. “Quem diz que não há perigo
para o fumante passivo não é mal informado, é ignorante”, disse ele.
O cirurgião plástico Ithamar Stocchero reconheceu que o fumo pode estar
relacionado a várias doenças, mas também afirmou que se deve garantir os
direitos dos fumantes.
“Eu sou bem informado e estou fazendo a escolha por mim mesmo. Eu não
quero ser um cidadão de segunda classe”, disse ele, lembrando que os
fumantes são muitas vezes obrigados a fumar em pequenos espaços,
conhecidos como fumódromos.
"Heróis"
Hainsi Gralow defendeu os plantadores de tabaco e lembrou que milhares
de pessoas dependem da atividade para sobreviver no Brasil.
O presidente da Afubra disse que esses agricultores eram “heróis” e
mereciam “respeito”.
Segundo Gralow, muita gente estaria interessada “em colocar o cigarro na
clandestinidade” – o que iria comprometer o futuro dos fumicultores no
país.
O cartunista Ziraldo, por sua vez, afirmou que achava “uma idiotice”
alguém processar uma empresa fabricante de cigarros porque, segundo ele,
fuma “quem quer”.
Para Ziraldo, o Brasil deveria se preocupar mais com outros assuntos,
como a violência. “Para mim, as propagandas alertando para os males do
cigarro já são suficientes. Acho que precisamos gastar mais bala com
coisas mais importantes”, disse ele.
Legislação impõe desafio à
propaganda de cigarro
Isabel Murray, de São
Paulo
Busca de si mesmo, auto-afirmação, influência da publicidade. São vários os
motivos que podem levar uma pessoa a começar a fumar.
Mas um deles, a propaganda, tem sido cada vez mais contido. A cada dia fica mais
difícil anunciar cigarros - situação muito diferente da de 20 anos atrás, quando
as propagandas do setor na televisão eram autênticas superproduções.
Em dezembro de 2000, a lei 10.167 restringiu a propaganda de cigarros no Brasil.
"A lei é muito clara nesse sentido, ela não diz onde não pode (ser feita
propaganda). Ela diz somente onde pode", explica Carlos Silvério, diretor de
criação da agência DPZ e que trabalha há 12 anos com propaganda de cigarro.
Pontos de venda
A lei determina que as propagandas de produtos derivados do tabaco só podem ser
feitas no ponto de venda e sob o formato de pôsteres e o que chamam de
"displays" (cartazes e luminosos).
Aliás, esse é um motivo de confusão, porque os publicitários dizem ser difícil
delimitar o limite entre as duas formas de propaganda.
Contornar as limitações legais para anunciar seu produto tornou-se um grande
desafio para os especialistas em propaganda e marketing.
"Estamos sendo desafiados a encontrar novas formas que até então não tínhamos
pensado ou cogitado; temos que ser absolutamente criativos e inovadores" diz
Carlos Silvério.
A criatividade consiste em criar o que é chamado de "comunidade de aproximação
com a marca".
Ferramentas como a internet, mala direta e eventos fechados estão sendo usadas
para cadastrar fumantes ou novos fumantes.
"A gente faz com que a escolha de uma marca seja coerente com outras escolhas
que a pessoa faz na vida", explica Silvério.
"Por exemplo, o tipo de lazer ou de informação cultural, ou forma de
relacionamento social. Se (a pessoa) vai a festas, se não vai, se está ligada à
internet ou não está, se gosta de passeios ao ar livre no fim de semana ou não,
de cinema ou não. Cada marca tenta criar um universo de identificação."
"Não é comunicação de massa. Eu estou fazendo um trabalho quase de porta em
porta, de casa em casa, de pessoa a pessoa, para criar um universo de
relacionamento", finaliza o publicitário.
Até mesmo eventos direcionados a um público sofisticado, como festivais de jazz
e de dança, patrocinados por cigarros, já estão com os dias contados.
Este ano será o último em que esses festivais vão acontecer, também devido às
restrições do governo.
Motivos
Segundo o Banco Mundial, no mundo todo, existem 1,1 bilhão de fumantes no
planeta. Ou seja, de cada três adultos, um fuma.
O psicanalista Oscar Cesarotto, que estuda o hábito de fumar |
Devido ao crescimento da população adulta e também ao aumento do consumo, o
número total de fumantes deve chegar a 1,6 bilhão no ano de 2025.
Muitos dos fumantes brasileiros nem deram pela falta das propagadas na TV. O
vício está tão arraigado que não há nada que possa fazer o fumante mudar de
opinião.
"Não tem nem explicação o prazer de fumar", suspira José Apelônio da Costa
Filho, de 68 anos, que fuma há 40.
"Quando eu quero parar de fumar, vou para a cozinha toda hora buscar alguma
coisa para pôr no lugar. Levanto de madrugada, é um vicio."
O que leva as pessoas a fumar com tanto prazer, mesmo sabendo que faz mal à
saúde? As teorias são muitas.
"As pessoas fumam por causa da solidão", opina o psicanalista Oscar Cesarotto,
que estuda o tema.
"Tecnicamente, em termos psicoanalíticos, fumar e os efeitos do tabaco na pessoa
são uma satisfação auto-erótica. Alguém pode se satisfazer sozinho graças ao
cigarro", continua ele.
"O tipo de satisfação que a nicotina produz estimula neurotransmissores no
cérebro."
O especialista diz que o prazer obtido com o cigarro está ligado a uma espécie
de angústia.
“Não que o cigarro estimule a região da boca, que é uma zona erógena. Também,
mas é mínimo. O que a nicotina produz no corpo é uma
sensação que está mais perto da angústia do que de outra coisa",
diz.
"É um paradoxo. Por um lado, satisfação, mas por outro uma sensação que não é
agradável e que prende o fumante de um jeito inescapável."
A idéia de que o cigarro funciona como uma espécie de muleta psicológica também
é aceita pelo psicoterapeuta.
"A pessoa não precisa de ninguém para fumar. Todo mundo pode fumar sozinho, até
se pode pensar que a pessoa, mesmo rodeada de outros, quando fuma, nesse momento
está isolada", completa Oscar Cesarotto.
A polêmica é grande, e o único ponto do qual ninguém discorda é que cigarro
vicia.
E para não perder esse consumidor cativo e atrair outros, os publicitários
brasileiros vão continuar a fazer de tudo para atrair esse público.
Afinal, segundo estatísticas fornecidas pelo Instituto Nacional do Câncer, para
substituir o contigente de pessoas que param de fumar ou morrem as indústrias
precisam garantir cerca de 2,7 milhões de novos fumantes por ano.
Cigarro
resiste a anos de leis e campanhas no Brasil
campanhas no Brasil
Foto colocada em maço para alertar sobre o câncer
Isabel Murray, de São Paulo
O fumo resiste bravamente no Brasil após 16 anos de campanhas e introdução de
leis que divulgam os seus males à saúde e restringem o consumo de cigarros.
Estima-se que mais de 30 milhões de brasileiros fumem, entre eles 12 milhões de
mulheres - no mundo todo, de acordo com o Inca (Instituto Nacional de Cãncer),
há 1,25 bilhão de fumantes.
A indústria afirma que o consumo de cigarros no país permaneceu estável nos
últimos anos. Segundo o Sindifumo (Sindicato das Indústrias do Fumo), são
consumidas anualmente cerca de 140 bilhões de unidades no país.
Mas a Receita Federal registou uma queda de 30% no consumo per capita de
cigarros entre 1989 e 2000, já incluindo os cigarros contrabandeados e
falsificados – outra dor de cabeça para os fabricantes.
Cerco
Clique
aqui para ler a especial "O Cigarro em Julgamento"
O cerco ao fumo no Brasil vem se fechando desde 1986, quando foi criado o Dia
Nacional de Combate ao Fumo – 29 de agosto.
A partir de então, uma série de leis proibiu as propagandas de cigarro nos meios
de comunicação, obrigou a publicação de frases de advertência nos maços e
proibiu que fabricantes de cigarro patrocinem eventos culturais ou esportivos.
O mais recente golpe para a indústria ocorreu em fevereiro deste ano, quando
todos os maços de cigarro passaram a ter fotos que alertam sobre os males
causados pelo tabagismo, a exemplo do que já acontecia no Canadá.
Cartaz do governo brasileiro contra o cigarro |
O Ministério da Saúde informa que até hoje não foi feita uma pesquisa oficial
abrangente sobre o perfil do fumante brasileiro.
Esse perfil só deve ser traçado a partir deste ano, com o Inquérito Domiciliar
sobre Comportamento de Risco de Doenças Não-Transmissíveis, que será realizado
em todas as capitais e no Distrito Federal.
No entanto, um estudo recente do Inca já demonstra as principais características
dos fumantes no município do Rio de Janeiro.
Especialistas dizem que a pesquisa é um bom exemplo porque, no que se refere ao
cigarro, levantamentos anteriores não constataram grandes diferenças de hábito
entre o Rio e outras áreas do país.
O fumante carioca
Os números indicam que a percentagem de homens fumantes no Rio de Janeiro é de
23,4% da população, enquanto as mulheres consumidoras de cigarro representam
20%.
A pesquisa também mostra que o hábito de fumar entre os cariocas é influenciado
pelo nível de escolaridade.
O percentual de fumantes entre os analfabetos é de 26% - ou seja, cinco pontos
percentuais acima da média. Entre as pessoas que têm entre um e quatro anos de
estudo, 25,9% fumam.
O hábito de fumar no Rio de Janeiro atinge apenas 17,3% das pessoas que têm
entre 9 e 11 anos de estudo.
E os fumantes com 12 ou mais anos de escolaridade representam apenas 17,2% da
população. O nível econômico também influencia o tabagismo – quanto menor o
salário, mais a pessoa fuma.
A pesquisa do Inca feita no Rio de Janeiro mostra que 23,5% das pessoas com
renda de até dois salários mínimos são fumantes.
Entre os que ganham de dois a quatro salários mínimos por mês, a parcela é
menor: 21,4%. Já entre os que ganham vinte salários mínimos por mês ou mais, a
percentagem de fumantes cai para 16,5%.
De maneira geral, o diretor clínico do Hospital do Câncer, em São Paulo, Daniel
Deheinzelin, afirma que há inúmeros tipos de fumantes, mas existe uma
característica mais marcante entre eles.
"Entre os fumantes, existe uma incidência muito alta de distúrbios de humor.
Calculamos que 40% dos fumantes são deprimidos ou ansiosos, ou os dois", afirma
o médico.
Entre os males do consumo de cigarro, estão os grandes gastos para o sistema de
saúde pública.
O Inca diz que 73.924 mortes por ano podem ser atribuídas ao cigarro e que o SUS
(Sistema Único de Saúde) gasta cerca de R$ 198,7 milhões anualmente apenas com
casos de câncer relacionados ao tabagismo.
Série
contou com apoio da OMS e terá debate na TV
Série contou com apoio da OMS e terá debate na TV
A série O Cigarro em Julgamento, realizada pela BBC Brasil, teve o apoio
da OMS (Organização Mundial da Saúde) e tem objetivo de demonstrar o impacto do
consumo de cigarro no país.
Para retratar os diversos aspectos do debate em torno do fumo no Brasil, a
repórter da BBC, Isabel Murray realizou uma série de reportagens com os
principais envolvidos na questão – de Santa Cruz do Sul (RS), onde se concentra
a maior parte da indústria tabageira (como o setor é conhecido no país), a
hospitais que tratam de pacientes com câncer de pulmão.
Entre os aspectos abordados, estão a família de um pequeno produtor,
a mulher fumante, adolescentes fumantes, ex-fumantes, os
motivos que levam pessoas a não conseguir largar o vício, o ponto de
vista de um defensor do fumo, as recentes proibições da publicidade de
cigarro no Brasil, e o contrabando.
O objetivo da série não é julgar, mas sim mostrar diferentes aspectos para que o
próprio público forme sua opinião – uma fórmula que é tradição na BBC.
Debate ao vivo
No rádio, a série foi dividida em dez partes, transmitidas pelas emissoras
brasileiras associadas à BBC Brasil. As séries também poderão ser ouvidas – com
material adicional em texto – aqui no site da BBC Brasil.
O projeto culminará com um debate sobre a questão do cigarro envolvendo rádio,
televisão e a internet, em um projeto pioneiro de cooperação entre a BBC Brasil
e a Rede Brasil.
O programa, marcado para o dia 12 de agosto, das 19h30 às 21h, contará com um
painel de especialistas e permitirá a participação de espectadores, com
perguntas e comentários sobre o tema.
O evento poderá ser visto por meio das emissoras associadas da TVE e pela Rede
Brasil, via satélite e cabo, em todo o país.
A discussão terá como mediador o apresentador Ronaldo Rosas, com a participação
do médico Dráuzio Varella, do cartunista e ex-fumante Ziraldo, de um fumante e
de um representante da indústria de cigarro.
Além de perguntas da platéia, os ouvintes, telespectadores e usuários da
internet poderão enviar perguntas e comentários para o debate por email para a
BBC Brasil ([email protected]) ou pelo o telefone gratuito 0800216688.
DANOS À SAÚDE
Fumo é responsável por 30% das mortes por câncer
Diretor clínico do Hospital do Câncer lembra que
fumo é agente direto ou potencializa problemas de saúde.
Diagnóstico
dificulta tratamento de câncer de pulmão
Fumo
na gravidez pode aumentar risco de autismo
Fumar
menos não afasta riscos de doenças, diz pesquisa
OS FUMANTES
Indústria visa jovens para substituir consumidores
Comportamento de amigos ou parentes e
propagandas ligadas ao sucesso atraem adolescentes ao vício.
Mulheres
fumantes somam 12 milhões no Brasil
Abandonar
o vício pode exigir ajuda profissional
Para
Mário Prata, cidade grande mata mais que cigarro
Ziraldo
abandonou o vício após fazer campanha
Cabeleireiro
já tentou parar de fumar nove vezes
Proibição
do fumo em empresas reduz vício, indica estudo
OS FABRICANTES
Produtores dizem que dependem do fumo para viver
Segundo federação de trabalhadores gaúcha, a
atividade é a única alternativa para milhares de famílias.
'Sem
tabaco, seria difícil sobreviver', diz produtor
Setor
defende o seu produto e ataca o contrabando
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