Bolsonaro convoca população a participar de campanha de jejum
Pastores chamam o pedido de Bolsonaro de "proclamação santa". A penitência seria
um ato contra o novo coronavírus, "para que o Brasil fique livre deste mal o
mais rápido possível"
postado em 04/04/2020 17:41 / atualizado em 04/04/2020 18:59
Bolsonaro postou nas redes sociais um video convocando a população para jejuar e
orar neste domingo (5), dia "proclamado" por ele próprio como o dia da "Campanha
de jejum e oração pelo Brasil".
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) postou nas redes sociais, na tarde
deste sábado (4/3), um video convocando a população para jejuar e orar contra o
coronavírus, neste domingo (5/3), dia “proclamado”, por ele próprio, como o dia
da “Campanha de jejum e oração pelo Brasil”, conforme escreveu na legenda da
publicação.
Na filmagem, com a hashtag “Jejum pelo Brasil”, 34 pastores de diferente igrejas
evangélicas endossam o pedido de Bolsonaro e classificam o chamado como
“proclamação santa feita pelo chefe supremo da nação”.
“Os maiores líderes evangélicos desse país atenderam à proclamação santa feita
pelo chefe supremo da nação, o presidente Jair Messias Bolsonaro e convocam o
exército de cristo para a maior campanha de jejum e oração já vista na história
do Brasil,” diz um trecho.
O bispo Edir Macedo, fundador e líder da Igreja Universal do Reino de Deus, e a
esposa, Ester Bezerra, também aparecem na filmagem. “Nós temos esse clamor pela
nação: Deus venha ouvir esse clamor”, disse Macedo.
No último dia 15, no entanto, o bispo minimizou a gravidade do novo coronavírus
e afirmou que a pandemia é uma “tática de Satanás” e uma estratégia da mídia
“para apavorar as populações e nações”. Depois, o vídeo foi apagado. Para
reforçar seus argumentos, o bispo compartilha na gravação um vídeo do médico
patologista Beny Schmidt, que diz que o vírus não é patogênico nem letal. Depois
que Schmidt apagou o vídeo em questão, Macedo também apagou sua postagem.
Em rápido recado, o pastor e deputado Marco Feliciano pede no vídeo: “Vamos
jejuar, orar e pedir misericórdia para que essa praga que veio sobre o mundo
cesse e que todas a previsões feitas aqui no Brasil caiam por terra”.
O pastor Silas Malafaia afirmou que 'depois que passar isso aí, vai vir um tempo
de prosperidade que nunca houve. Todas as previsões catastróficas estão
aniquiladas no nome de Jesus'.
Ao final do vídeo, um recado escrito na tela pede para que o mesmo seja
compartilhado: “Domingo, 5 de abril, a igreja de cristo na terra irá clamar e o
inferno irá explodir. Participe, repasse esse vídeo mobilize a sua igreja” e
deixa um trecho de Crônicas 2, versículo 7: 13-14. “E se o meu povo que chama
pelo meu nome se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus
maus caminhos, então eu ouvirei dos céus e perdoarei os seus pecados e sararei a
sua terra”.
Ainda aparecem no vídeo: Missionário R.R Soares; pastor André Valadão; pastor
Rene Toledo; pastor Silas Câmara; pastor sênior Lourival de Almeida, cantora
Débora Miranda; Bispo Abner Ferreira; pastor Juanribe Pagliarin; pastor Abe
Huber; pastor Mário de Oliveira; pastor Jorge Linhares; pastor José Wellington
Junior; apóstolo Renê Terra Nova; pastor Roberto de Lucena; apóstolo Renê Terra
Nova; bispo Samuel Ferreira; bispo Robson Rodovalho; apóstolo Valdemiro
Santiago; pastor Hernandes Dias Lopes; apóstolo Luiz Hermínio; pastor Abílio
Santana; reverendo pastor Roberto Brasileiro Silva; pastora Ezenete Rodrigues;
pastor Márcio Valadão; pastor Guilherme Batista; pastor Valdomiro Pereira;
pastor Humberto Schimitt Vieira; apóstolo Agenor Duque; bispa Ingrid Duque;
pastor André Hernandes; apóstolo Estevam Fernandes e pastor Samuel Câmara.
Oração na porta do Alvorada
No último dia 2, Bolsonaro conversou com um grupo de pastores na porta do
Palácio da Alvorada. O grupo orou pelo presidente e pediu que ele convocasse a
nação para um jejum, pois como chefe do Executivo ele teria “autoridade”,
disseram. Em seguida, o chefe do Executivo gravou um recado para outros grupos
evangélicos e “proclamou” um dia nacional de jejum no Brasil neste domingo (5).
O trecho do momento também foi publicado no vídeo: “Muito obrigada a todos vocês
e àqueles que acreditam e têm fé, domingo (5) é dia de jejum”, apontou Bolsonaro.
No mesmo dia, em entrevista a uma rádio, Bolsonaro mencionou a intenção ao dizer
que a penitência seria um ato contra o novo coronavírus. "Sou católico e minha
esposa evangélica. É um pedido dessa pessoas. Estou pedindo um dia de jejum para
quem tem fé. Então a gente vai, brevemente, junto com os pastores, padres e
religiosos anunciar aí. Pedir um dia de jejum para todo o povo brasileiro em
nome, obviamente, de que o Brasil fique livre desse mal o mais rápido possível".
Ao final da entrevista, ele voltou a falar sobre a ideia de jejum. "De acordo
com decisão, evangélicos e católicos têm pedido para mim, para que a gente possa
marcar um dia um jejum de todo o povo brasileiro".
Também está marcado outro ato para este domingo (05), organizado pelo Movimento
Nas Ruas. Publicações no Twitter criticam os decretos estaduais de combate ao
coronavírus, por ferirem o “direito de ir e vir”, direito ao comércio, direito à
educação e o direito ao culto.
Como diria Lula, nunca antes na história deste país houve registro de semelhante
bizarrice. Nunca pensei que, em pleno século XXI, viessem a
ocorrer as sandices que vemos atualmente em nosso país. Nestes dias em
que devemos nos alimentar bem para reforçar as nossas resistências contra o
perigo que nos rodeia, alguém conclamar a população a passar um dia sem
alimentar!