O PROGRESSO ANTITABÁGICO NO BRASIL
25/02/2003
Não foi fácil, mas a luta contra o incômodo vício veio produzindo resultados
gradativamente e continuará. Seguem abaixo alguns textos que mostram a guerra
que foi necessária para termos um pouco de direito ao bem-estar.
"O Ministro Borges da Silveira, da saúde, chegou a entregar, no mesmo dia 7"
(dia 7 de abril de 1988, que a OMS instituiu como "o primeiro Dia Mundial sem
Tabaco"), "uma moção popular com 17,8 mil assinaturas ao presidente da
Constituinte, pedindo imposição de restrições ao uso do cigarro no texto da nova
Constituição." (Doutora, Revista Médico Científica, abril, 88, págs. 31 e 32).
Após muita relutância contra os esforços do Deputado José Elias Murad e outros,
felizmente foi plantada em campo fértil a semente capaz de germinar um grande
avanço no combate ao vício: o inciso II do parágrafo 3º e o parágrafo 4º do
artigo 220 da Constituição Federal de 1988, que restringem a maléfica propaganda
e exige a advertência de que o vício é prejudicial, que sempre vemos nos
comerciais de televisão. Tal dispositivo tornou viável a Lei 9.294/96, que
partiu de um projeto feito em 1989, passou em votação na Câmara dos Deputados em
1990 e, somente em 15.07.96, foi aprovada no Congresso.
POR QUE É DIFÍCIL COMBATER O VÍCIO NO BRASIL? É simplesmente o "amor do
dinheiro", que, na doutrina cristã, se considerou a "raiz de todos os males".
"A indústria do fumo levanta argumentos fortes para defender sua área. Alega
que, sem cigarros, não haverá impostos para o governo, nem emprego para as cerca
de 3 milhões de pessoas envolvidas na sua produção, assim como deixará inativos
perto de 100 mil lavradores que cultivam tabaco. Com uma produção expressiva de
bilhões de maços/ano (161 bilhões de unidades, o que perfaz um consumo médio per
capita de 57 maços), o setor também exporta, tendo obtido no ano passado um
resultado muito bom para um país carente de dólares: US$450 milhões". (Idem,
pág. 32).
"Até hoje” [em 1988], “este setor econômico tem levado vantagem sobre as
disposições antitabagistas de parlamentares e ministros. Os jornais falam que
chega a 157 o número de projetos de lei relacionados ao assunto que 'dormem' nas
gavetas do Congresso: 43 deles relativos à proibição ou restrição da propaganda
do cigarro nos meios de comunicação; 32 referentes à restrição do fumo em
ambientes fechados, escolas, repartições públicas; 20 ligados à obrigatoriedade
das embalagens de cigarro trazerem advertência sobre os males do produto à
saúde; os demais, relativos a restrições de ordem geral." (Idem, pág. 32).
"No tocante aos impostos, a dependência econômica do governo deste setor é
alarmante. Basta lembrar que 77% do preço final do cigarro corresponde a
impostos. Assim, chegam aos cofres públicos anualmente somas fabulosas em IPI e
ICM sobre o cigarro (este produto sozinho representa 20,2% de toda a arrecadação
deste tributo, mais de Cz$100 bilhões). Os Estados não ficam atrás. O
recolhimento do ICM sobre cigarro é também expressivo. No Rio de Janeiro,
segundo o Jornal 'O Globo', a Souza Cruz (subsidiária da British Tobacco) lidera
a lista dos maiores contribuintes do ICM, seguida por outros gigantes como a
IBM, CSN, Brahma, Antárctica e Coca-Cola. Dá para resistir tudo Isso?" (Idem,
pág. 35).
Vemos aí que é bastante significativo o valor econômico do vício, se não
considerarmos os prejuízos dele decorrentes. Mas, analisando bem percebemos que
o governo fazia uma UMA PÉSSIMA OPÇÃO:
Mas será que empregos para "3 milhões de pessoas envolvidas", "100 mil
lavradores", e milhões em impostos justificam as conseqüências do vício? Veja o
balanço a seguir.
Em resposta sobre se dá para resistir tanto dinheiro em impostos, a mesma
revista diz:
"Para os antitabagistas não só dá, como deve. Ou seja, partindo de experiências
promovidas em outros países, que vêm orientando os empregos e os cultivadores de
tabaco para outros setores, eles dizem que essa dependência econômica pode ser
reduzida sem traumas. Quanto aos impostos, a vantagem é relativa. Os
antitabagistas lembram que se o governo arrecadou no ano passado de impostos
sobre o cigarro Cz$70 bilhões, gastou o dobro, ou seja,
140 bilhões em
tratamento das doenças decorrentes do uso do fumo e também em pensão para os
incapacitados. Dados do Ministério da Saúde mostram que existem no país 33
milhões de fumantes, correspondendo a 40% da população acima de 15 anos. Morrem
anualmente 100 a 120 mil pessoas por doenças provocadas pelo uso do fumo, como
as cardiovasculares, câncer do pulmão, enfisema pulmonar, bronquite crônica.
Outros 100 mil ficam incapacitados para o trabalho. É melancólico constatar
ainda que estas vítimas se situam numa faixa etária de plena produtividade do
indivíduo, ou seja, entre 40 e 50 anos." (Idem, pág. 35).
Por aí pode-se ver que o governo, quando edita leis antitabágicas, não o faz por
ser bonzinho, mas por sentir os prejuízos que o vício dá ao Estado.
E a luta é constante: se informar que o cigarro causa
diversos tipos de câncer e doenças cardíacas sensibilizou poucas pessoas, a
informação de que favorece a impotência sexual talvez tenha alarmado um pouco
mais; mas pouco diminuiu o número de fumantes. Quando, porém, começaram as
restrições legais que dificultam a vida do fumante, como proibir o vício nos
lugares públicos, os efeitos passaram a ser mais visíveis.
Hoje as leis estão ficando cada vez mais restritivas, o que leva
uma pessoa inteligente a pensar que, além dos prejuízos à saúde, os prejuízos
sociais não compensam a prática de um hábito que está, com muita razão, cada vez
mais estigmatizado quase por todos os lugares do mundo.
Assim, o nosso país está entre os que têm avançado bem no combate
a essa doença social que a maligna indústria do vício, visando exclusivamente o
lucro, conseguiu disseminar pelo planeta.
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CIGARRO EM QUEDA