TURISMO DO FIM DO MUNDO

 

''Fim do mundo'' deve atrair milhares de pessoas ao México

Fotos: Gustavo Belarmino/ NE10
 

O México guarda alguns dos principais sítios arqueológicos do planeta - são catalogados mais de 30 mil. Mas os pertencentes à civilização Maia, em especial, estão atraindo a atenção de místicos de todos os continentes por um assunto em especial: o calendário Maia, que prevê uma grande mudança energética em 21 de dezembro deste ano. Somente no sítio arqueológico de Chichén Itzá, fundada por volta de 435 a 455 antes de Cristo, na Península de Yucatan, estão sendo esperadas mais de 30 mil pessoas que vão até o lugar aguardar o "fim do mundo".

Para céticos ou não, a verdade é que o país faz parte de uma rota arqueológica e cultural que envolve milhões de anos de história e que deixou marcas profundas na cultura e nas tradições do povo mexicano e integra parte de um importante nicho do turismo do país. Para se ter ideia da presença antepassada na vida moderna mexicana, não precisa ir muito longe para conviver com as marcas dos povos antigos. A própria capital hoje tem seu principal cartão postal, o Zócalo, construído acima do Templo Maior, que foi um grande monumento da civilização asteca, em Tenochtilan, hoje Cidade do México.

 

Acima, detalhe do que restou do Templo Mayor convivendo com prédios coloniais

Destruído pelos espanhóis em 1521, o sítio arqueológico de Tenochtilan deu lugar a uma nova cidade colonial espanhola e ficou por anos esquecido aos olhos do mundo. Somente na primeira metade do século 20 o trabalho dos arqueólogos possibilitou a escavação e resgate de parte da arquitetura do lugar, não sem embargos. Para revelar uma história ainda mais longeva, edifícios coloniais tiveram que ser destruídos, o que possibilitou a descoberta de mais de 7 mil objetos, que hoje estão guardados e disponíveis para visitação pública no Museu do Templo Maior. Hoje o sítio arqueológico convive com o Zócalo, uma das maiores praças do mundo, além da Catedral Metropolitana da Cidade do México (abaixo dela, inclusive, existem escavações arqueológicas). Para observar a área de cima, vale muito uma visita a um dos prédios antigos - e, dizem, assombrados - da praça. O Best Western Hotel Majestic é um dos principais camarotes com visão privilegiada da praça. Para jantar, é necessário reserva.
 


Vendedor local mostra objeto de sopro que imita o som dos pássaros
 

Os multicoloridos tecidos trazem referências ao calendário maia
 


Detalhe da Pirâmide da Lua
 

Não muito longe da Cidade do México, a cerca de 40 km, o desbravador pode ter contato com uma área histórica bastante preservada. O caminho que leva da capital ao sítio arqueológico de Teotihuacan, também considerado Patrimônio da Humanidade pela Unesco, em 1987, percorre parte de Tulpetlac, imenso conjunto de casinhas cinza, formado sobretudo por pessoas do interior do país que vieram morar próximo à cidade em busca de melhores condições de vida. Pouco a pouco, a paisagem, urbana e caótica, dá lugar a campos de milho, trigo e cevada. Logo se chega a uma das construções mais impressionantes dessa viagem arqueológica e, de longe, é possível contemplar as pirâmides do sol e da lua, principais monumentos da civilização teotihuacana, "onde os homens se fazem deuses". Estima-se que, no seu apogeu, por volta de 300 a 600 depois de Cristo (calcula-se que o primeiro povoado tenha vivido ali em 600 a.C.), cerca de 200 mil pessoas habitaram aquela localidade.

 


Turistas visitam a Pirâmide do Sol
 

Ao lado das pirâmides do Sol (a mais alta do local, com 65 metros, e a segunda mais alta de todo o México, perdendo apenas para a de Tepanapa) e a da Lua, a cidade é formada pela imensa calçada dos mortos e pelas grandes pirâmides, área onde ficavam as pirâmides secundárias, a Cidadela, o palácio de Quetzalpapálotl, o edifício dos caracóis emplumados e o templo de Quetzalcóatl. Ao chegar no local, diversas lojas estão à disposição dos visitantes, vendendo souvenires. Mas é mesmo aconselhável comprar um grande sombreiro - o sol geralmente é forte na área -, protetor solar e água. A caminhada promete ser intensa, sobretudo na subida das pirâmides. Na área, o som peculiar é do rugido do jaguar, animal sagrado da região. O som é feito através de uma ocarina, comercializada pelos vendedores locais. Mas preste atenção. Perguntar o preço de qualquer objeto significa, no mínimo, que os vendedores vão seguir você tentando convencê-lo da compra por alguns metros. Se optar mesmo pela compra, pechinche. Normalmente se conseguem preços bem mais em conta.

CALENDÁRIO - A península de Yucatan, no sudeste do México, é considerada a porta de entrada para o mundo Maia. É lá que ficam algumas das mais representativas construções dessa misteriosa civilização, que habitou grande parte o México e também vastas áreas na Guatemala, Honduras e El Salvador, tendo seu apogeu entre os anos 600 e 900 depois de Cristo. Embora existam grupos que façam passeios específicos só para as áreas das pirâmides, são os turistas com os destinos Cancún e Riviera Maya carimbados no passaporte os que mais frequentam os sítios arqueológicos, principalmente Tulum, no litoral, e o principal deles, Chichén Itzá, a 2h30 de viagem partindo de Riviera Maya. Nos hotéis, é possível agendar um transfer de ida e volta, com guia e entrada no sítio, por aproximadamente 130 dólares.

O caminho até Chichén-Itzá é rústico, com casinhas simples às margens das bem cuidadas rodovias. Há também possibilidade de paradas, para compras de artesanato, nas muitas tendas montadas ao longo do caminho. Todo trajeto é bem sinalizado - para os que optarem por alugar um carro para ir até o local -, com placas fazendo referências às pirâmides. A chegada ao sítio arqueológico bem conservado parece mais voltada ao turismo do que Teotihuacán. Há vários vendedores, lojinhas, livraria, café. Na caminhada até as ruínas, muitos vendedores também vão oferecer artesanatos, máscaras com a figura do jaguar e caveiras de todos os formatos, em barro e madeira.
 

Caveirinhas de madeira, para os mexicanos, significa boa sorte

 

O primeiro contato do visitante é com pequenas construções piramidais que fazem parte do conjunto, muito embora a mais emblemática seja a imponente El Castillo - ou templo de Kukulkan. Hoje a estrutura, que passa por um processo de restauração, é fechada aos visitantes, que não podem mais escalá-la. Circulando pela área, não se surpreenda ser houver iguanas caminhando tranquilamente; e pare para observar a fauna local, com inúmeros pássaros que terminam compondo os sons do ambiente, deixando-o ainda mais místico.
 

 

Outra grande e surpreendente construção é a do imenso campo de futebol (Juego de Pelota) onde eram disputados torneios (na verdade cerimônias religiosas) que duravam semanas, nos quais o capitão do time vencedor era sacrificado, em forma de oferenda aos deuses. Há de se perguntar por que justamente um dos ganhadores eram mortos. "Os que perdiam eram considerados indignos; por isso seu sangue não poderia ser ofertado", explicou a guia turística Blanca Chan, que cresceu entre as pirâmides de Chichén Itza. "Aprendi a andar de bicicleta aqui [na área do campo de futebol]". Blanca, que é descendente direta dos maias, percorre as ruínas com propriedade, entende e respeita a energia do lugar. "Nossas crianças aprendem desde cedo a pedir permissão aos protetores do local. Para estes aluxes (figuras que lembram um gnomo), são feitos pequenos altares, como se fossem criados círculos de energia, e ali colocadas oferendas, feitas de massa de milho e água", detalha.

Impossível, estando ali, não fazer qualquer tipo de referência ao calendário maia - que muitos acreditam que prevê o fim do mundo. Para a guia, o que está escrito fala sobre o fim de uma era, da renovação da energia do Planeta. O tour pelas ruínas inclui ainda uma visita ao Templo dos Guerreiros e ao prédio do observatório, com sua estrutura arredondada. Tudo ali faz referência à fixação dos maias em entender a criação do cosmos, a vida no planeta e como os ciclos astrológicos podiam nos dizer algo sobre o futuro. A própria arquitetura do lugar é reflexo dessa civilização que tentou traduzir os sinais dos céus.

* O jornalista viajou a convite da Copa Airlines e do Conselho de Promoção Turística do México

http://ne10.uol.com.br/canal/cultura/turismo/noticia/2012/09/20/fim-do-mundo-deve-atrair-milhares-de-pessoas-ao-mexico-368865.php
 

 

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