PRIMEIRO MANDAMENTO:

NÃO TERÁS OUTROS DEUSES DIANTE DE MIM

- 23/02/2003

 

 

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos” (Deuteronômio,5: 7-10).

 

"Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais" (Isaínas, 14: 22,22).

 

Naqueles tempos, cada povo tinha seus deuses. Os dos outros eram falsos. Havia deuses de todas as formas animais. Parece que a idéia original foi de que cada deus fez suas criaturas à sua “imagem e semelhança”. E, como para os hebreus, havia um único deus, todos os outros seriam falsos: “em cima no céu” havia as “aves” (Deuteronômio, 4: 17), deificadas por povos vizinhos, “na terra”, “quadrúpedes e répteis”, também os humanos (Deuteronômio, 4: 16, 17), e o mais adorado era o boi; e “nas águas debaixo da terra”? Há águas debaixo da terra? Sabemos que a Terra não está em cima de nada. Mas para o onisciente Javé, à imagem e semelhança dos hebreus, a Terra estava como um disco a flutuar sobre o oceano, e debaixo dela havia peixes e animais marinhos (Deuteronômio, 4: 18). Esses também, se deificados, seria afronta ao grande Javé.

“Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos” - Para povo tão bárbaro, ferir ou matar o filho por vingança contra o pai era coisa muito natural. Seu deus não poderia deixar de ser como eles.

Ellen Gould White, com sua grande habilidade de adaptação das afirmações bíblicas, escreveu:

 

"É inevitável que os filhos sofram as conseqüências das más ações dos pais, mas não são castigados pela culpa deles, a não ser que participem de seus pecados. Dá-se, entretanto, em geral o caso de os filhos andarem nas pegadas de seus pais. Por herança e exemplo, os filhos se tornam participantes do pecado do pai. Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração. Esta terrível verdade deveria ter uma força solene para restringir os homens de seguirem uma conduta de pecado". (Patriarcas e Profetas, p. 312).

Todavia, o registro de I Reis 11:34, 35 confirma a literalidade do mandamento e refuta o argumento de E. G. White: "Todavia não tomarei da sua mão o reino todo; mas deixá-lo-ei governar por todos os dias da sua vida, por amor de Davi, meu servo, a quem escolhi, o qual guardou os meus mandamentos e os meus estatutos. Mas da mão de seu filho tomarei o reino e to darei a ti, isto é, as dez tribos". Jeová estaria vingando a idolatria de Salomão no seu filho, nos termos do referido preceito.

Essa mentalidade irracional é ilustrada também na maldição de Noé sobre Canaã, o filho de Cão. Cão teria rido da nudez de seu pai, Noé. A punição teria sido lançada sobre seu filho, que nenhum desrespeito teria cometido, mas pagaria o mal praticado pelo pai, segundo a “justiça” dos hebreus.

Resquício dessa “justiça” primitiva chegou até quase os nossos dias, atingindo os filhos e netos de Tiradentes. Seu julgador sentenciou: "declaram o réu infame, e seus filhos e netos, tendo-os, e os seus bens aplicam para o Fisco e Câmara Real". Foi mais clemente do que o deus de Israel, injustiçando apenas os filhos e netos. Felizmente nossa atual Constituição, de modo diverso, afirma: "Nenhuma pena passará da pessoa do condenado" (CF/1988, art. 5º, XXV). Nossos pecaminosos legisladores são mais justos.

 

Cobrar dos pais sobre os filhos é algo difícil de se aceitar numa sociedade mais civilizada. Entretanto, para um povo de hábitos tão primevos, isso não era nada errado, mas se enquadrava perfeitamente na justiça do seu deus, que, como todos os outros, não poderia ser muito diferente de seu povo.

 

Esse mandamento mostra também um deus implacável, que não perdoa quem busca outro deus. Como para os hebreus todos os outros povos estavam excluídos do favor divino, todos os outros deuses também deveriam ser banidos como obras das mãos dos homens.

 

Em suma, o primeiro mandamento já nos apresenta um deus ciumento, vingativo, com um conceito muito bárbaro de justiça e desconhecedor da geologia do mundo que ele próprio teria criado.

Esse primeiro mandamento já é suficiente para concluirmos que Yavé não é mais do que um produto do pensamento daquele povo primitivo.

 

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