MAIS DO QUE PREVISÍVEIS

 

Repórter da Viver Brasil vai a três consultas de videntes, dessas que se anunciam em panfletos distribuídos nas ruas. Adivinha o que aconteceu?

Texto: Eliana Fonseca | Fotos: Ilustrações: Paulo Werner e SXC

O tempo está sujeito a fortes trovoadas, mas pode fazer sol, como também podem aparecer nuvens. Se a previsão pareceu um tanto ampla e pouco específica, esta foi a intenção. Ela exemplifica o que pode acontecer com muitas pessoas que procuram videntes que espalham seus cartazes e distribuem panfletos pelo centro e arredores de Belo Horizonte. A reportagem da Viver Brasil foi a três consultas dessas prováveis adivinhas. O objetivo era comportar-se exatamente como uma cliente, ávida por saber detalhes da vida futura e esclarecer alguns fatos do presente. Três mulheres, com menos de 50 anos, leram a sorte, e também azar, em jogos de cartas, búzios, tarô. Previram o futuro, falaram de ganhos inesperados, destacaram a inveja, espelharam o horror com possíveis prejuízos e roubos e também a morte. Mas, afinal, falaram a verdade? Saiba o por que, já no início da segunda consulta, a sensação de que tudo não passava de enganação era latente.
 

O primeiro panfleto chamou a atenção: trazer e prender o ho­mem amado; tirar a rival do caminho; modificar desejos e deixar a pessoa melhor do que antes. “Tudo isso por 20 reais”, avisa uma voz feminina no momento da marcação da consulta. “Quem te indicou?”, quis logo saber desconfiada. A resposta: um panfleto distribuído por um garoto na rua. O prédio velho e comercial, com paredes mofadas, abrigava a casa da vidente, que parece ter pouco mais de 30 anos. Com cara de poucos amigos, o atendimento acontece ao lado uma menina de cerca de dois anos. “Sua filha?”, pergunto, reparando nas cortinas vermelhas e no sofá, além de uma televisão enorme para o cômodo que deve ter 2m². Ela responde que sim e sem delongas me manda entrar em um quartinho em que santos do catolicismo e orixás do candomblé ocupam o mesmo espaço.

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“Posso falar as coisas boas e ruins que aparecerem no baralho?” Meio desconfiada com as coisas más, respondo que sim. A boa notícia é que vou morrer muito velha, mas, as más são que sou invejada, vou sofrer decepção amorosa, que haverá uma grande fofoca em uma semana com o meu nome, que terei também um prejuízo enorme. Que uma peça de roupa foi roubada do meu guarda-roupa e que serviu para um feitiço. Confesso que a cada previsão começava a ficar meio apavorada.


A vidente parece ter percebido e joga a previsão derradeira. “Estou vendo uma morte para breve”. “A minha?”, pergunto. “Não, pode ser de alguém próximo, de algum parente ou até mesmo a morte de alguma ideia”. Ah... bom. Em menos de 20 minutos a consulta se encerra.


A segunda vidente é sorridente e simpática e também me atende numa sala de um prédio comercial. O local, com uma sala, quarto e cozinha também é sua moradia. Por ficar na área central é intenso o número de pessoas que chegam para consulta. O custo também é de 20 reais. Um homem chega esbaforido e me diz, meio sem graça, se poderia passar na minha frente. Veio da cidade de Cláudio, a 139 km de Belo Horizonte. “Tudo bem”, concordo. Enquanto espera pela vidente, ele conta que já veio diversas vezes só para as consultas. Antes de saber mais, a vidente o chama.

Na minha vez, pergunta se há algum mal me afligindo. “Quero búzios”, respondo à indagação sobre o que desejava que ela jogasse. Nem sei porque perguntou: ela mesma escolheu alguns baralhos e me falou que eram melhores para o jogo. Não disfarço e faço cara de “como é que é?”. “Não se preocupe, vou confirmar as cartas com um jogo de búzios”. Vou morrer muito velha é a primeira previsão. Muitos têm inveja de mim. Vou sofrer decepção amorosa. Mas essa não era a previsão da primeira? Exatamente. Ah... para completar preciso tomar cuidado com fofoca, uma peça de roupa foi roubada para fazer o mal, posso ser roubada ou sofrer um prejuízo. Neste exato momento, a sensação de que estava sendo enganada foi forte. Acrescenta que uma pessoa próxima que morreu há pouco tempo quer fazer contato. “Quem é essa pessoa”, me aperta a vidente. Só me lembro da minha avó que morreu há quase seis anos. “Coloca um cafezinho, que ela gostava muito, e um copo com água num local fora de sua casa”.  Não me impressiono.


A próxima vidente é uma mulher bonita de cabelos longos. Não emite qualquer sorriso ou gesto de simpatia. Deixa-me esperando por 45 minutos e, enquanto isso, aproveito para conversar com uma moça que espera pelo seu atendimento. “Parece que as coisas estão se concretizando”, responde quando  pergunto se tudo estava acontecendo conforme o previsto. Afinal, era a segunda vez que ia à vidente. Ela estava um tanto arredia e só no final da consulta eu entenderia a razão.


Se há uma coisa que posso afirmar com certeza sobre as três videntes é que elas adivinham sim... o que a outra diz em sua consulta. São capazes de repetir os mesmos dizeres, com a mesma entonação. Foi o que aconteceu com a terceira vidente, que me cobrou 30 reais pelo jogo de tarô. Ela também atende em sua casa. Adi­vinha? Vou morrer velha, sou muito invejada e há também um feitiço em uma peça de roupa. A novidade é que ela pode acabar com tudo isso – mas avisa que tenho de ser rápida senão o feitiço durará para sempre. Basta comprar duas dúzias de velas de mel, vendidas somente por ela, a 10 reais cada. A conta é rápida: daria para pagar oito consultas de uma só vez. “Não estou interessada neste momento”, respondo. 

Os olhos da vidente, que estavam fechados durante todo o tempo, se abrem lentamente. “Tenho certeza de que você voltará muito antes do que imagina, afinal, você quer melhorar sua vida. E, quando voltar, traga pelo menos o dinheiro para seis velas. Não é para mim, mas para essa compra das velas”, diz.  Minutos antes do final da consulta, que também durou cerca de 20 minutos, a vidente diz que não era para contar para ninguém o que havia sido dito. Isso quebraria a corrente. Quando passo pela recepção, surpresa! Já são sete pessoas à espera de uma consulta.
 

É possível fazer alguma coisa quando alguém se sente enganado nestes casos? A atividade de vidência não é licenciada pela prefeitura municipal de Belo Horizonte, segundo informações da assessoria de imprensa da Secretaria Municipal Adjunta de Regulação Urbana, portanto, não é fiscalizada. Se resolver partir para outro âmbito, o do consumidor lesado, pode-se ter mais sorte. O coordenador do Procon Assembleia, Marcelo Barbosa, explica que se for seguido o Código de Defesa do Consumidor “é possível sim, pedir o dinheiro de volta se as previsões não se concretizarem. É uma oferta com uma publicidade enganosa. No entanto, para isso são necessários alguns cuidados: é preciso identificar pelo menos o local de atendimento da falsa vidente pa­ra podermos fazer a notificação. Outra saída é fazer uma queixa-crime na Delegacia do Consumidor já que o charlatanismo e estelionato são crimes previstos em lei”, diz.


Se for confirmado que o vidente cometeu crimes como estelionato, furto mediante fraude e exploração da credulidade pública a pena pode variar de 3 meses a 5 anos de prisão, segundo o delegado da 21ª Delegacia Distrital do Hipercentro, Marco Antônio de Paula Assis. “Se a pessoa se sentir lesada, ela pode procurar a delegacia e pedir a instauração de um inquérito. Nesses casos, quase sempre a investigação conclui por crime de estelionato ou exploração da credulidade. As pessoas, no entanto, precisam estar cientes de que é preciso ter muito cuidado. Não podem procurar pessoas desconhecidas, em lugares onde não têm qualquer conhecimento, para resolver problemas e dúvidas da sua vida”, aconselha. Estas, sim, são dicas que todos deveriam seguir.

<http://www.revistaviverbrasil.com.br/materia_02.php?edicao_sessao_id=156>

 

Eu também, há quase trinta anos,  ouvi as previsões de uma vidente.  Ela tinha muitas coisas para dizer a qualquer pessoa.  Cada coisa que ela dizia que acontecia comigo, realmente acontecia, mas eu logo imaginava que aquilo acontecia com qualquer pessoa.  Após tantas coisas genéricas, me disse que eu havia gostado muito de uma "mulher da vida", termo que se usava para se referir a prostituta. Eu disse para ela que esse detalhe não havia acontecido, ela logo me disse: "ah, não, observando bem, é elas que andam perseguindo você".  Em seguida começou com as promessas de melhorar minha vida, bastando comprar uma vela, que tinha um custo bem elevado, que não lembro quanto.  Eu disse para ela que no dia seguinte tinha que passar por ali novamente, e então em estaria com dinheiro para pagar a vela, e ela ficou esperando.

 

 

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