FOTO DO MONSTRO DO LAGO NESS

 

Fotos ambíguas são a essência da história do Monstro do Lago Ness
Imagem de satélite ajuda a perpetuar a tradição de trotes envolvendo 'Nessie'; mas, cientificamente, sua existência está longe de ser provada
Carlos Orsi
05 Mai 2014 - 15h37 Atualizado em 05 Mai 2014 - 15h47

Circula na internet uma imagem de satélite do que parece ser um peixe gigante debaixo d’água, e que vem sendo apresentada como “prova” da existência do Monstro de Loch Ness, criatura mítica que habitaria um lago (“loch”) na Escócia.



Fotos ambíguas são da essência da história de Nessie, como o monstro é carinhosamente chamado. A imagem mais emblemática da criatura, a chamada "foto do cirurgião", foi feita pelo ginecologista Robert Wilson em abril de 1934. Essa é a famosa fotografia que mostra a silhueta de um dinossauro semi-submerso singrando as águas de Loch Ness.

Em seu livro The Loch Ness Mystery Solved, publicado em 1984 e geralmente considerado a melhor fonte sobre a criatura, Ronald Binns escreve que um dos filhos de Wilson disse, anos mais tarde, que a foto era uma fraude. Em 1994, dois pesquisadores relataram que o truque tinha sido orquestrado por um trio de amigos, com o doutor servindo de fotógrafo. O "monstro" é, na verdade, um submarino de brinquedo, com uma cabeça de massa de modelar.
 

A clássica “foto do cirurgião” (Foto: reprodução)


A tradição de trotes envolvendo Nessie vem se perpetuando: em 2003, foi descoberta, na margem do lago, a vértebra fossilizada de um plessiossauro. O problema é que o fóssil estava incrustado em rochas de um tipo que não existe na região, sugerindo que algum espertinho levara a relíquia até lá. E, em 2005, um pedaço de chifre de alce foi apresentado como um "dente" do monstro.

Varreduras de radar do fundo do lago falharam em encontrar o monstro, e em 2003 o maratonista e ex-jogador de futebol inglês Lloyd Scott percorreu a extensão do leito do lago a pé, usando um escafandro, num percurso de 12 dias. Nada de Nessie.

Como acontece com outras criaturas ditas “criptozoológicas” – como o Pé-Grande da América do Norte – o que já tornava a existência de Nessie extremamente improvável, mesmo antes dos radares e escafandros, é o fato de que nenhum animal sobrevive sozinho: toda criatura pressupõe uma espécie, da qual faz parte, e a ecologia correspondente – presas, predadores, parasitas etc. Além disso, todo ser modifica seu ambiente, deixando para trás sinais como carcaças, excrementos, rastros. E nada do tipo jamais foi encontrado em relação ao monstro do lago. Onde estão os restos de suas refeições? Suas fezes? Os ossos de seus pais?

Quanto à foto recente: o que ela mostra é, na verdade, o rastro de um barco navegando pelo lago. Se olhar com atenção, dá para ver o contorno da embarcação, meio apagada, no miolo da imagem.

Esse apagamento, aliás, não é fruto de fraude ou conspiração, mas um efeito comum em imagens feitas a partir do espaço e que são, na verdade, mosaicos e sobreposições de várias fotos diferentes, tiradas à medida que o satélite se desloca em sua órbita. Como escreve o biólogo marinho Andrew David Teller, “se uma foto do mosaico tem um barco com a luz estourada (como acontece com quase todo barco fotografado do espaço) e outra é praticamente só água azul, você acaba com o contorno azul fantasmagórico de um barco”, que justamente é o que aparece na nova foto do Lago Ness.
https://revistagalileu.globo.com/blogs/olhar-cetico/noticia/2014/05/o-que-aparece-na-nova-foto-do-monstro-do-lago-ness.html

 

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