A EVOLUÇÃO DO OLHO

10/10/2009

 

Os adversários da evolução, os defensores das lendas criacionistas, não se cansam de tentar desfazer o que hoje está tão claro. Dizem que a evolução é impossível, não obstante ela esteja aí visível. Aqui está e a explicação de um biólogo, com os exemplos que lançam por terra um elaborado argumento.

"WILLIAM PALEY (1743-1805) - O teólogo inglês sustentou que há elementos tão perfeitos na natureza que só podem ser obra divina. Dizia Paley: 'assim como o relógio de pulso foi resultado do intelecto humano, o olho só pode ter sido criado por um designer inteligente.'"  (Veja, 11 de fevereiro/2009, pag.  73-83)

 

Eis a teoria contra a evolução:

"Para que o olho funcione é preciso que ocorram os passos perfeitamente coordenados mínimos descritos a seguir (há muitos outros ocorrendo simultaneamente, mas até uma descrição grosseiramente simplificada basta para assinalar os problemas para a teoria darwiniana). O olho tem de estar limpo e úmido, mantido nesse estado pela interação da glândula lacrimal e das pestanas móveis, cujos cílios também servem como um tosco filtro contra o Sol. A luz então atravessa uma pequena seção transparente do revestimento protetor externo (a córnea), e continua pelo cristalino, que a enfoca na parte posterior da retina. Ali, 130 milhões de bastonetes e cones sensíveis à luz causam reações fotoquímicas que transformam a luz em impulsos elétricos. Cerca de 1000 milhões desses impulsos são transmitidos por segundo, por meios que não são adequadamente compreendidos, a um cérebro que então executa a ação apropriada.

Ora, é muito evidente que se a menor coisa der errado no caminho – se a córnea estiver enevoada, se as pupilas não se dilatarem, se o cristalino se tornar opaco ou o foco for errado – não se forma uma imagem reconhecível. Ou o olho funciona como um todo, ou não funciona absolutamente. Sendo assim, como foi que ele evoluiu por aperfeiçoamentos darwinianos lentos, contínuos e infimamente pequenos? É mesmo plausível que milhares de milhares de afortunadas mutações aleatórias tenham acontecido coincidentemente de modo que o cristalino e a retina, que não podem funcionar um sem o outro, tenham evoluído em sincronia? Que valor de sobrevivência pode ter um olho que não vê?"

Agora, vejam a explicação de um biólogo, pessoa que estuda a vida:

"Esse argumento notável é apresentado com grande freqüência, presumivelmente porque as pessoas querem acreditar em sua conclusão. Consideremos a afirmação de que "se a menor coisa der errado [...] se o foco for errado [...] não se forma uma imagem reconhecível". A probabilidade de você estar lendo estas palavras através de lentes de óculos não pode estar longe de 50/50. Tire seus óculos e olhe em volta. Você concordaria que "não se forma uma imagem reconhecível"? Se você for homem, a chance de ser daltônico é de uma em doze. Também pode ter astigmatismo. Não é improvável que, sem os óculos, sua visão seja nebulosa e borrada. Um teórico evolucionista atual dos mais ilustres (embora ainda não sagrado cavaleiro) limpa seus óculos com tão pouca freqüência que sua visão provavelmente é nebulosa e borrada de qualquer maneira, mas ao que parece ele se vira muito bem e, segundo ele próprio, costumava ser um adversário temível no squash monocular. Se você perdeu seus óculos, talvez irrite seus amigos deixando de reconhecê-los na rua. Mas você se irritaria ainda mais se alguém lhe dissesse: "Já que agora sua visão não está absolutamente perfeita, você pode muito bem andar por aí de olhos fechados até encontrar seus óculos". Ele também afirma, como se fosse óbvio, que o cristalino e a retina não podem funcionar um sem o outro. Com que autoridade? Uma amiga minha foi submetida à operação de catarata em ambos os olhos. Ela não tem nenhum cristalino nos olhos. Sem óculos, não poderia nem começar a jogar tênis ou fazer pontaria em um rifle. Mas ela me garante que é muito melhor ter um olho sem cristalino do que não ter olho nenhum. Ela consegue saber se está prestes a trombar com uma parede ou uma pessoa. Um ser vivo certamente poderia usar seu olho sem cristalino para detectar a aproximação da forma de um predador e a direção de onde ele se aproxima. Em um mundo primitivo onde algumas criaturas não têm olho nenhum e outras têm olhos sem cristalino, estas últimas teriam todo tipo de vantagem. E existe uma série contínua de Xs tal que cada minúscula melhora na nitidez da imagem, do borrão ondulante à visão humana perfeita, plausivelmente aumenta as chances de sobrevivência do organismo."

Agora, veremos exemplos de olhos em formação, que não passaram despercebidas para um biólogo:

"Alguns animais unicelulares possuem um ponto fotossensível, e atrás dele um pequeno filtro de pigmento. O filtro protege o ponto da luz proveniente de uma direção, o que lhe dá alguma "idéia" de onde a luz provem. Entre animais pluricelulares, vários tipos de vermes e alguns crustáceos possuem uma estrutura semelhante, mas as células fotossensíveis e o pigmento protetor dispõem-se em forma de uma pequena taça. Isso lhes dá uma capacidade ligeiramente maior para detectar direções, pois cada célula é protegida seletivamente dos raios de luz que entram na taça lateralmente. Em uma série contínua que vai de uma lâmina plana de células fotossensíveis, passa por uma taça rasa e chega a uma taça profunda, cada passo na série, por menor (ou maior) que seja, representaria um aperfeiçoamento óptico. Ora, com uma taça muito profunda e as bordas reviradas, teríamos por fim uma câmera obscura sem lente. Existe uma série continuamente gradativa que vai da taça rasa à câmera obscura (...).
Uma câmera obscura forma uma imagem definida; quanto menor o orifício de entrada da luz, mais nítida (porém penumbrosa) é a imagem. O molusco nadador Nautilus, uma criatura estranhíssima parecida com a lula, que vive numa concha como os extintos amonites (ver o "molusco cefalópode da figura 5), possui duas câmeras obscuras que lhe servem de olhos. Seu olho apresenta basicamente a mesma forma que o nosso, mas não tem "lente", isto é, cristalino, e a pupila é apenas um orifício que admite a água do mar no interior oco do olho. Na verdade, todo o Nautilus é um enigma. Por que, em todas as centenas de milhões de anos desde que se desenvolveu um olho de câmera obscura em seus ancestrais, o animal nunca descobriu o princípio do cristalino? A vantagem do cristalino é permitir que a imagem seja ao mesmo tempo nítida e brilhante. O curioso no Nautilus é que a qualidade de sua retina indica que ele realmente se beneficiaria, em alto grau e de imediato, de um cristalino. É como um sistema de alta-fidelidade com um excelente amplificador ligado a um gramofone com uma agulha gasta. O sistema implora por uma mudança simples específica. No hiperespaço genético, o Nautilus parece ser o vizinho imediato de algum aperfeiçoamento óbvio e imediato, mas não dá o pequeno passo necessário. Por que? Michael Land, da Universidade de Sussex, nossa maior autoridade em olhos de invertebrados, está preocupado, tanto quanto eu. Será que as mutações necessárias não podem emergir devido ao modo como os embriões do Nautilus se desenvolvem? Não quero crer nisso, mas não tenho explicação melhor. Pelo menos, o Nautilus ilustra dramaticamente o argumento de que um olho sem cristalino é melhor do que olho nenhum.

Quando se tem uma taça servindo de olho, quase qualquer material vagamente convexo, transparente ou até mesmo translúcido sobre a boca da taça constituirá um aperfeiçoamento, devido às suas propriedades ligeiramente semelhantes às de uma lente (ou de um cristalino). Esse material capta luz em sua superfície e a concentra em uma área menor da retina. Uma vez existindo esse tosco protocristalino, há uma série continuamente gradativa de melhoras que o tornam mais espesso e mais transparente e diminuem sua distorção, com a tendência culminando no que todos nós reconheceríamos como um verdadeiro cristalino. Os parentes do Nautilus, as lulas e os polvos, possuem um cristalino de verdade, bem parecido com o nosso, embora certamente em seus ancestrais todo o princípio do olho-câmera tenha evoluído de modo totalmente independente do nosso. A propósito, Michael Land supõe que existem nove princípios básicos para a formação de imagem usados pelo olho, e que a maioria deles evoluiu muitas vezes independentemente. Por exemplo, o princípio do prato-refletor recurvado difere radicalmente de nosso olho-câmera (nós o usamos em radiotelescópios, e também em nossos maiores telescópios ópticos, pois é mais fácil fazer um espelho grande do que uma lente grande), e ele foi "inventado" por vários moluscos e crustáceos independentemente. Outros crustáceos possuem um olho composto como os insetos (na realidade uma série de numerosos olhos minúsculos), enquanto outros moluscos, como vimos, possuem um olho-câmera obscura. Para cada um desses tipos de olho existem estágios correspondentes a intermediários evolutivos entre outros animais modernos." (Do livro O Relojoeiro Cego, de Richard Dawkins, páginas, 122-124 e 130-132).

 

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