"Hidroxicloroquina não tem eficácia
contra a Covid em pacientes leves e
moderados, diz estudo brasileiro
Foram analisados mais de 600
participantes atendidos em 55 hospitais.
Percentual de mortes foi de 3% tanto
entre os que tomaram o remédio quanto
entre os que integravam o grupo
controle.
Por G1
23/07/2020
No maior estudo brasileiro publicado até
agora, pesquisadores apontam que a
hidroxicloroquina não teve eficácia no
tratamento da Covid-19 em pacientes com
casos leves e moderados atendidos em
hospitais.
O estudo aponta que, após 15 dias de
tratamento, percentuais semelhantes dos
pacientes (que tomaram ou não
hidroxicloroquina) já estavam em casa
"sem limitações respiratórias". O
percentual de óbitos foi igual em todos
os grupos: 3%.
A pesquisa, revisada por outros
cientistas, foi publicada nesta
quinta-feira (23) no "The New England
Journal of Medicine".
Hidroxicloroquina não faz diferença na
evolução de pacientes com Covid-19, diz
estudo
Hidroxicloroquina não faz diferença na
evolução de pacientes com Covid-19, diz
estudo
Dois novos estudos publicados na 'Nature'
mostram que a cloroquina e
hidroxicloroquina são ineficazes no
combate à Covid-19
Sociedade Brasileira de Infectologia diz
que hidroxicloroquina deve ser
abandonada no tratamento da Covid
O estudo foi realizado pela Coalizão
COVID-19, que ainda conduz outros oito
estudos sobre o tema, incluindo um sobre
a mesma droga no tratamento de casos
ambulatoriais, ou seja, em casos mais
leves da Covid-19.
O grupo é formado por Hospital Israelita
Albert Einstein, HCor, Hospital
Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de
Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP
– A Beneficência Portuguesa de São
Paulo, o Brazilian Clinical Research
Institute (BCRI) e Rede Brasileira de
Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).
Estudo Coalizão I - Resultados
De acordo com os pesquisadores desses
centros médicos, foram analisados 667
pacientes com quadros leves ou
moderados. Eles foram atendidos em 55
hospitais brasileiros. Por sorteio, eles
foram divididos em três grupos: um com
217 pacientes recebeu hidroxicloroquina
e azitromicina, outro com 221 pacientes
recebeu hidroxicloroquina e o terceiro,
com 227 pacientes, apenas suporte
clínico padrão.
"O status clínico (...) foi similar
nos grupos tratados com
hidroxicloroquina e azitromicina,
hidroxicloroquina isolada ou grupo
controle", apontou o estudo.
Em um período de 15 dias, os
pesquisadores afirmam que estavam em
casa sem limitações respiratórias:
69% dos pacientes do grupo
hidroxicloroquina + azitromicina +
suporte clínico padrão;
64% dos pacientes do grupo
hidroxicloroquina + suporte clínico
padrão;
68% dos pacientes do grupo suporte
clínico padrão.
A interpretação dos autores é que "a
utilização de HCQ ou Azitromicina não
promoveu melhoria na evolução clínica
dos pacientes".
Em relação a morte de pacientes, o
número em 15 dias foi semelhante entre
os grupos, em torno de 3%.
Efeitos colaterais
Sobre os chamados "efeitos adversos", a
pesquisa destacou dois pontos:
Alterações em exames de
eletrocardiograma (aumento do intervalo
QT, que representa maior risco para
arritmias) foi mais frequente nos
grupos que utilizaram hidroxicloroquina;
Alteração de exames que podem
representar lesão hepática foi
mais frequente nos grupos que utilizaram
hidroxicloroquina.
De acordo com o estudo, "não houve
diferenças para outros eventos adversos,
como arritmias, problemas hepáticos
graves ou outros".
Luciano César Azevedo, superintendente
de Ensino no Hospital Sírio-Libanês e
integrante da Coalizão Brasil, disse que
o estudo foi desenhado em março, quando
ainda existia uma dúvida com relação ao
uso da hidroxicloroquina no tratamento
da Covid-19. O resultado, segundo ele,
era esperado pelos pesquisadores.
"Em março, tinha algumas publicações
muito pequenas, com muitas limitações do
ponto de vista metodológico, mas à
medida que foram saindo outros estudos
de outros países, e até pesquisas
brasileiras, a gente já começou a pensar
que a hidroxicloroquina e a azitromicina
não eram eficientes no tratamento da
Covid", disse.
Além dos riscos apresentados pelo uso da
hidroxicloroquina sem comprovação,
Azevedo chama a atenção para o uso
frequente da azitromicina, um
antibiótico muito prescrito no
tratamento contra a doença.
"A azitromicina é um antibiótico que tem
um perfil anti-inflamatório, usado pela
possibilidade teórica de combater o que
a Covid-19 estava fazendo com o
organismo. Essa é uma das grandes
preocupações que a gente tem, já que os
pacientes estão recebendo antibióticos
de forma indeterminada, e não só a
azitromicina. Certamente nós teremos
problemas de resistência bacteriana se a
gente continuar administrando sem
evidência clara esses medicamentos".
Perfil dos pacientes
Os autores explicam que os pacientes
incluídos no estudo tinham idade em
torno de 50 anos e pouco mais da metade
era do sexo masculino. Os participantes
eram pacientes recém-admitidos ao
hospital (até 48 horas) que tivessem
sintomas iniciados, no máximo, até sete
dias antes. Além disso, 40% eram
hipertensos, 21% eram diabéticos; 17%
eram obesos.
"Estes resultados não são aplicáveis a
outras populações, a exemplo de
pacientes ambulatoriais com formas mais
leves e iniciais de COVID-19. Para estes
pacientes, é necessário aguardar estudos
randomizados robustos em andamento." -
Coalizão COVID-19
<https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/07/23/hidroxicloroquina-nao-apresenta-efeito-favoravel-em-tratamento-contra-covid-19-em-pacientes-leves-e-moderados-diz-maior-estudo-brasileiro.ghtml>