O CASAMENTO ATRAVÉS DOS TEMPOS

- 07/05/2001 -

 

Hoje as pessoas se vêem, se atraem mutuamente, namoram, convivem de forma bem íntima antes de, como se diz, “se amarrarem”, e, não obstante todas essas oportunidades, tantos casamentos se desfazem em pouco tempo. No passado, no entanto, já foi bem diferente. Acho, entretanto, que agora está melhor.

Afirma-se que o homem primitivo, quando percebia a sua cobiçada fora da tribo, sem perda de tempo, pregava-lhe uma cacetada na cabeça, e, enquanto desmaiada, a futura esposa era arrastada para a caverna do felizardo. Dizem que pancada de amor não dói, mas esse arriscado ato amoroso devia doer muito! E algum desastrado podia apagar para sempre sua preciosa presa.

Um jeito mais ameno de conquistar a esposa, como se conta, era agarrá-la e conduzi-la carregada para o lar do novo casal. Dizem que, se ela conseguisse escapar-se das mãos do caçador, ficaria livre daquele pretendente; caso, porém, fosse transportada até a caverna, estaria condenada a amá-lo e respeitá-lo até que a morte os separasse, sem a mínima chance de divórcio.

A mulher, que já devia estar começando a criar seus truques de sedução, certamente dava uma forcinha quando se via espreitada por um bonitão. Devia se separar propositalmente do grupo a fim de ser pega por aquele que a pudesse fazer feliz. Mulher nunca foi boba nada!

Houve, também, entre determinado povo, certo costume de os dois fugirem e a família da moça montar uma falsa perseguição ao casal, apenas como um ritual, sem a verdadeira intenção de capturar os aventureiros do amor. Durante toda uma revolução lunar, os jovens, em lugar isolado, passavam, como popularmente se diz, só pensando “naquilo” e tomando chá afrodisíaco à base de mel, donde surgiu o termo “lua-de-mel”.

Com o desenvolvimento de uma forma de relações mais amistosas entre as tribos, veio aquela fase em que o que valia era o pai da moça gostar do rapaz. Bem estranho para as meninas de hoje; não é? O patriarca escolhia quem merecia ser seu genro, e azar da filha! A Bíblia relata que Jeová, o criador de todas as coisas, proibiu seu povo eleito, os hebreus, de dar suas filhas aos filhos de determinados povos e de tomar as filhas desses povos em casamento. Entre os próprios hebreus havia também o sistema de compra da noiva, como no caso do Jacó, que foi meio jacu, deixando-se ser enganado pelo Labão, que lhe empurrou a filha mais feia e, para ter a mais bela, o moço teve que trabalhar mais sete anos para o sogro, totalizando quatorze longos anos da sua vida. O amor é paciente mesmo!

Mas a mulher não concordou em ficar para sempre nessa condição de coisa não. Lutou para valorizar-se. Ser caçada! Ser comprada! Ser dada! Isso era bem humilhante. Era uma injustiça. A mulher batalhou para se igualar ao homem, ter o direito de escolher seu par. Como o Deus de Israel era bem machista, permitiu ao seu povo que aquele que achasse alguma coisa indecente em sua esposa desse-lhe carta de divórcio. A coitada, todavia, nada podia fazer se seu marido fosse um nojento, fedorento, chato ou tivesse qualquer tipo de indecência. Os homens podiam ter mais de uma esposa, o que estava fora de cogitação para a mulher.

Em uma época já de muito progresso feminino, o futuro noivo já tinha que fazer um pedido ao candidato a sogro, dependendo, ainda, de aceitação da pretendida. Já era um grande avanço! Já estávamos na era em que o rapaz ficava conversando longa e pacientemente com o velho, enquanto a jovem o apreciava pelo buraco da fechadura, avaliando o material e, depois, discretamente levava-lhes um cafezinho e dizia aquele respeitoso “bom dia”, ou “boa noite”.

Passada a fase do buraco, a aproximação do casal veio se tornando mais fácil. Algumas já podiam sentar-se no mesmo banco em que estivesse o rapaz. Progredindo um pouco mais, passou-se a aceitar darem-se as mãos e, paulatinamente, foi-se dando, até chegar ao estágio que se vê hoje: “no limits”, como por toda parte se adora falar inglês.

Não obstante estarmos na era da liberação geral, muitos ainda mantêm aquela ideologia de que o homem é o conquistador, e a mulher deve ser conquistada, mas com largas possibilidades de dar uma ajudinha, com muita liberdade de executar todo seu jogo de sedução. Algumas, porém, já acham muito antiquada essa idéia de conquistador e conquistada, tendo a mulher o mesmo direito de lançar-se na conquista de seu par, ficando assim mais equiparados ambos os sexos. E isso não é ruim; mormente quando o homem é bem tímido, evitando-se que a falta de coragem masculina seja prejudicial também à mulher que está a fim de ser amada.

Pensando bem, neste pormenor também o nosso mundo tem melhorado bastante. Ao invés de nos arriscarmos à periculosidade das tais pancadas de amor dos trogloditas, ou mesmo termos que correr como cavalos para tomar violentamente as nossas companheiras, temos até a oportunidade de sermos caçados, e sem a violência que tinham os nossos ancestrais remotos que empregar na caça à mulher. Ademais, as experiências malsucedidas não mais precisam eternizar-se, havendo, para ambos, uma saída para se remediar o engano, podendo ocorrer mesmo ensaios pré-nupciais, que possibilitam uma escolha mais segura daquela companhia tão importante. Viva a liberdade!
(Histórias, Estórias, etc.)
 

   

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